21.05.2014

A cidade sem fim

Os cidadãos tem o poder de mudar sua relação com o espaço urbano, basta querer

O surgimento do capitalismo, na Idade Média, iniciou um período no qual a obtenção de lucros e o acúmulo de capital se tornaram o objetivo principal dos indivíduos que participam do sistema.

A chegada do século XIX, já na Idade Moderna, mostrou que o crescimento do capitalismo se dava, principalmente, pela exploração da mão de obra e a formação de grandes monopólios industriais, enriquecendo as elites e empobrecendo a classe operária. Nessa época, movimentos socialistas tentaram interromper o processo de desenvolvimento do capital, sem sucesso.

Na década de 1970, a Revolução Tecnológica alterou os rumos do capitalismo. A eletricidade, a eletrônica e a automação globalizaram o conhecimento e promoveram o desenvolvimento da tecnologia, a transformando em “combustível” para o sistema.

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OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

Na grande maioria das cidades contemporâneas é possível perceber como suas ruas, prédios e todos os demais elementos que a compõe são planejados em função do capital e não das pessoas que a habitam.

A velocidade acelerada das vidas faz com que usemos o espaço urbano apenas como caminho. As ruas vão se tornando locais de trânsito, exclusivamente. Já não apreciamos a cidade. Não a vivemos. Sendo que entre nossos deveres como cidadãos está o cuidar e usufruir da coisa pública. Como a cidade, por exemplo.

Alguns grupos de pessoas se deram conta desta crise no relacionamento entre os indivíduos e a pólis, e passaram a criar formas de ocupar o espaço público. O intuito é a reapropriação da cidade, reforçando o papel primordial das ruas: ser a voz do povo.

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FORMAS DE OCUPAÇÃO

Em Curitiba, o cicloativismo vem ganhando espaço e repensando o papel da bicicleta como modal de transporte e seu espaço no trânsito. Segundo Danilo Herek, coordenador de mobilidade urbana da prefeitura pela Setran, uma inversão de valores está acontecendo. O espaço está todo pensado para o automóvel, sendo que apenas 30% das pessoas se locomovem desta forma, enquanto os outros 70% vão a pé ou utilizam o transporte público.

“Quando você está de carro, você só quer chegar. De bike ou a pé, as pessoas param para olhar as coisas, ao invés de ficarem ligadas apenas na velocidade e no stress diário do trânsito”, diz a estudante de artes visuais Caroline Lemes. Além de cicloativista, ela também coordena o projeto Criaturas Crônicas, que reúne escritores, amantes da escrita ou apenas curiosos em marcos curitibanos para observar e escrever sobre o local, inspirados no que está acontecendo ao redor. “E é a troca que vale, você ver a visão de cada um daquele lugar, que mesmo que esteja sentado ao seu lado, será totalmente diferente da sua”, afirma Caroline.

Em Belo Horizonte e em São Paulo, a ocupação de prédios públicos abandonados deu origem ao Espaço Comum Luiz Estrela e ao Ouvidor 63, respectivamente. Antes considerados apenas escombros e um amontoado de entulho, os lugares se tornam fomentadores da expressão artística nas cidades, por meio da promoção de shows, oficinas, debates, cursos, apresentações.

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O PODER DA INTERNET

Apesar das diversas críticas feitas em relação ao imediatismo e ao individualismo causados pela tecnologia atualmente, a Internet, se bem utilizada, pode ter uma função primordial na sociedade.

As redes sociais têm um grande poder de mobilização, sendo capazes de levar informações a um grande número de pessoas. Um exemplo clássico desse fenômeno são as jornadas de junho de 2013, quando milhões de brasileiros se organizaram pela Internet e foram às ruas protestar.

Conforme afirma o historiador Rainer Souza, o capitalismo ainda se faz presente em nossas vidas sob formas que se reconfiguram com uma velocidade cada vez mais surpreendente. Por quanto tempo o capitalismo ainda vai reger o desenvolvimento da sociedade não se sabe, mas reaver o que pertence a nós, cidadãos, por direito, sem dúvida é um passo importante para evitar que nos tornemos uma civilização movida apenas pelo dinheiro e interesses estritamente comerciais. A rua nos pertence e é nosso dever tomá-la de volta.