16.03.2015

Maniqueísmo Digital

A coisa está quente nas redes sociais. Os revoltados com a situação do país esbravejam contra o governo federal. Na contraparte, os defensores “vermelhos” gritam que não há contra o quê protestar, que se trata de uma manifestação da classe média, burguesia e “coxinhas”, da qual as classes menos favorecidas sequer participam. Estes mesmos “vermelhos” afirmam que é anti-constitucional pensar em impeachment, mas, por outro lado, acham normal o ex-presidente Lula convocar o “Exército de Stédile” com o apoio da Venezuela de Maduro, para defender a democracia brasileira, caso seja necessário. Para piorar, os principais grupos promotores de todo este barulho no mundo digital – “Vem Pra Rua”, “Revoltados Online” e “Movimento Brasil Livre” – estão em desacordo quanto ao objetivo do movimento e sua propriedade autoral (se é que alguém pode se considerar dono de um movimento que surgiu nas redes sociais de forma espontânea).

Aos trancos e barrancos, sem saber muito bem por que nem para quê, as “pessoas azuis” foram às ruas. Mostraram sua insatisfação e algumas selfies bem planejadas no meio da multidão. Postaram palavras de ordem no Facebook – e enfrentaram o contra-ataque do “inimigo vermelho” que jura que o país está uma maravilha, que a corrupção sempre existiu, que tudo sempre foi assim, que é uma covardia a imprensa perseguir o PT, que é tudo culpa do FHC, que os americanos querem o nosso pré-sal e o velho blá-blá-blá de sempre. Voltando às “pessoas azuis”: a maioria não entendeu até agora se é possível ou não um impeachment, tampouco suas consequências. Poucas delas sabem se querem ou não que o vice “azul e vermelho com cara de Drácula” assuma. E as consequências para a visibilidade da nossa democracia no mundo, com um segundo impeachment em 23 anos, nem vermelhos, nem brancos, nem verdes e muito menos os azuis levam em consideração.

Está na hora de deixarmos as paixões de lado e conversarmos sério. Chega de levantar bandeiras e enfrentar os “inimigos” nas redes sociais. Eles não são inimigos – eles são seus vizinhos, familiares, parentes e amigos. Estão todos no mesmo barco que eu ou você. Se eles defendem absurdos, talvez o absurdo esteja em você. Por isso, é hora de conversar e entender o que está do outro lado. É hora de parar de fugir da argumentação para recorrer aos gritos e ao maniqueísmo. O Brasil não tem uma cultura partidarista como os EUA sempre tiveram, representada pela famosa dualidade democrata x republicana. Sim, é nítido que o governo de situação no Brasil tem a cada dia buscado tal realidade usando perigosos termos como “Luta de Classes” e “Elite Branca”, mas isso não reflete nossa cultura política. Portanto brasileiros, sejamos humildes o suficiente para ouvir, corajosos o suficiente para comunicar sem agredir e honrados ao máximo para reconhecer o que está errado do nosso lado. Afinal, não existe um lado seu ou meu. Existe um único lado – um Brasil que precisa melhorar, e não pode se fiar em desculpas ou em uma espécie de Apartheid às avessas criado pelo governo para nublar nossas percepções.