11.09.2013

MOÇA, QUANTO FICA SÓ O SABONETE, SEM AS SENSAÇÕES?

No princípio era o verbo, e o verbo estava nas commodities, e as commodities viraram incríveis sensações. Por isso hoje não compramos só sabonete, mas um sabonete que vem com o poder de nos despertar para a real beleza. Um refrigerante que traz um mundo de felicidade debaixo da tampinha.  E até o comercial da Selaria Texana, tido como o pior de todos os tempos, não vende só uma loja de acessórios para montaria – é uma loja que faz o amor acender o fogo.

Isso tudo me faz lembrar aquela piada do bêbado que entra na loja de artigos religiosos:

– Moça, quanto é aquela cruz ali de cima?

– Cento e cinquenta reais, senhor.

– E sem o magrão pregado nela, fica quanto?

Agora tudo vem com muitos penduricalhos. E nem todos são tão relevantes para nós, consumidores. Consumidores que têm cada vez menos tempo e mais desinformação, e que por isso acabam levando o desodorante que é o atalho para o sucesso, sem saber como ele não te deixa suar. Consumidores que estão em todas as redes sociais, onde além de encontrar amigos, têm que seguir o Itaú, porque isso muda o mundo, e compartilhar os posts do Guaraná Antarctica.

Sinto um pouco de falta dos velhos tempos das commodities, onde o consumidor que só precisava de uma cruz, encontrava uma cruz, sem um magrão pendurado. Com todo respeito ao magrão. E pra matar as saudades dos bons tempos folheei umas revistas da década de 50. E aí, achei um absurdo um anúncio que usava um dentista para chancelar um produto – porque não era de pasta de dente que ele estava falando, era de cigarro.

Daqui uns cinquenta anos, talvez outro publicitário tão chato como eu também ache esquisito as campanhas de hoje em dia, que usavam mulheres gordinhas e artistas forenses para vender, vejam só, sabonete.

Gustavo Pessoa é gerente de atendimento na WOW.