19.08.2013

1 Ano

Acho que lido bem com a dor. Os anos de esportes amadores, maus cuidados com o corpo, LER e preguiça de médico deixaram cicatrizes na maioria das articulações do meu lado direito. Aprendi a conviver com elas. Meu pé tem uma daquelas dorzinhas chatas de velho, aquela que avisa quando vai chover. Também já passei por tanta merda que aprendi a ser resiliente com outros tipos de dores. Me acho duro. Tenaz.

Uma vez o Groff, o Luiz Henrique, me disse: “escrever dói”. Essa frase não é dele, ele me disse de quem era, mas eu não me lembro. Tenho me lembrado pouco das coisas, dos amigos. Mas esses dias me lembrei do Groff.

No meio de uma discussão – quem trabalhou com o Groff sabe do que eu to falando –  levei um esporro e fui com o rabo entre as pernas pra minha mesa. Piá de bosta, nas fraldas. Não dá pra mandar o diretor de criação se lavar. Melhor engolir e tentar outro caminho. Depois de algumas horas fui lá falar com ele. Contar a minha versão da história.

Eu e o saudoso Café, irmão mais novo da fera, tínhamos a mesma idade e estudamos no mesmo colégio. Não me lembro bem porque raio de motivo um dia o Café levou o irmão dele para dar uma aula sobre propaganda, e lá foi o Groff. Contou suas histórias e passou alguns filmes. Um deles eu nunca me esqueci. Uma ideia simples e muito bacana para vender o terceirão do Colégio Decisivo (acho). Eu revirei a internet atrás do filme, mas não encontrei, se alguém tiver, por favor, sobe aí. Era mais ou menos assim:

Câmera parada num grão de milho num fundo infinito preto com uma loc off que começava: milho, monocotiledonea da família das sei lá o que… e segue dando toda a descrição científica etimológica cosmológica do milho …o amido quando aquecido cria uma reação X e se expande pra fora da membrana Y… mas você pode chamar de…. como mágica aquele grão estoura sem pular, imóvel e a locução fecha dizendo: pipoca.

Depois de contar o making of e os pepinos de filmar uma pipoca que não pulasse, o Groff nos deu a tarefa de criar um anúncio para uma escola de inglês. Quebramos a cabeça, discutimos rabiscamos, rasgamos folhas de caderno e chegamos no nosso momento-eureka-adolescentes-cheio-de-hormonios. Fizemos uma piadinha com push e puxe. Simples, mas mesmo assim foi escolhido o melhor anúncio da sala. Uau!

Dez anos depois lá estou eu contando essa história pro Groff. Coloque mais uma década nessa conta e estou aqui de novo. Essa semana fez 1 ano que eu coloquei o pé Adland londrina e achei que seria legal colocar algumas linhas no papel. Mas escrever realmente dói.

E dói também o meu pé, dia sim dia não, me lembrando do delicioso clima britânico. Mas tudo bem. Me acho duro. Tenaz. Sigo resiliente. Correndo atrás das minhas próprias pipocas. Quem sabe daqui há 10 anos não sou eu inspirando um moleque da sétima-série outra vez.