24.06.2013

Eu não quero um Brasil melhor

E acho que não sou o único.

O atrito é bacana. Atrito gera movimento, rompe a inércia. Mas pessoalmente não curto muito o choque, o confronto. Ver o pau-comer não é meu esporte favorito. Eu gosto mesmo é de andar na rua tranquilão.

Numa conversa em casa chegamos à conclusão de que temos muita saudade do Brasil, mas nenhuma saudade de morar no Brasil. Curioso como essa conversa aconteceu pouco antes de milhares (milhões, sei lá) de pessoas sairem às ruas reivindicando um Brasil melhor.

Eu não quero um Brasil melhor.

Melhor dito, não quero apenas um Brasil melhor. Quero brasileiros melhores. Mas isso tá foda. E não existe nenhuma luz no fim do tunel.

Eu perdi a esperança e larguei mão. O Brasil está muito errado, perigoso demais pra mim. Fui embora. Deixei a pátria amada que pariu e esse povo jeitoso que nela habita. Fui embora com medo de andar na rua. Medo de deixar minha mulher sozinha em casa. Medo de tudo. Medo de continuar sendo brasileiro.

E nessas horas de radicalismo penso que os brasileiros deveriam ter um pouco menos orgulho, enrolar as bandeiras, baixar a guarda e voltar pra suas casas, onde as revoluções deveriam estar acontecendo.

Porque no Brasil é assim, o mesmo jovem, a mesma jornalista, o mesmo artista que grita por um Brasil melhor, sonega imposto, trata mal seus empregados, não recicla seu lixo, fura fila, suborna o guarda, dirige bêbado, pirateia a TV a cabo, bate na mulher, estupra a vizinha, etc etc etc, atrocidades não faltam. Sei que estou generalizado, mas convenhamos, temos orgulho do nosso jeito, do nosso jeitinho. Malandro. Legítimo. Nosso e ninguém tasca.

A turma diz que “o poder esta com o povo” está radicalmente correta. A cultura é reflexo do povo. Idem a política. Essa enorme ilha verde no meio do continente e um antro de corruptos, cada um com a sua própria moral, seu senso de certo e errado.

O melhor do Brasil nunca foi o brasileiro.

É um belo slogan. Uma bela embalagem para o nosso jeitinho malandro. Um perfeito eufemismo para a corrupção. Essa, que já não nos damos conta, faz parte de nós. Somos nós.

Na minha opinião cantar o hino de costas, se vestir de branco, de verde-amarelo, de preto, jogar pedra, pixar muro, levantar bandeira, pintar a cara e tal, são apenas elementos de contraregragem para as produções digitais desse novo povo. Esse povo unido, moderno, que grita, se manifesta e registra tudo. Um mundo novo. Um Brasil novo. Que está acontecendo nas ruas. Orgânico. Viral. Social.

O pior é que toda a balburdia que está acontecendo vai parar no mesmo lugar. Um lugar bem conhecido, chamado esquecimento. O Brasil vai melhorar, mas não vai mudar. É um país sem valores. Uma bling e frágil sociedade. Sem referências culturais. Sem um líder. Aliás, o mundo está sem lider. Revoltas, revoluções, protestos pipocam aqui e ali em todo mundo, mas não concluem nada, não mudam nada. O #occupy desapareceu do mesmo jeito que comecou, orgânico, diluido, sem direção, sem um propósito. Afinal, são tantos, não são? Queremos tudo, não queremos? Somos a geração X, do instante, de tudo ao mesmo tempo. Conectados, plugados no mundo. Zumbis sem foco que querem alguma coisa, mas não sabem bem o que querem. Não sabem se expressar. Aí saem gritando, como uma criança cagada que só faz chorar.

Mas você não, você é inteligente e politizado. Um cara jovem, engajado e tá muito afim de colocar uma boina do Che e sair aloprando por aí, tá não? Afinal tem que mostrar pra todos os seus amigos que você está fazendo a diferença nesse pais.

Então aproveita pra dar um pulinho no posto de saúde e levar um café para a enfermeira que tá lá se fudendo limpando merda de doente. Dá uma força pro professor da sexta-série da escola pública que levou um soco do aluno. Passa lá na carceragem e manda um salve pro pessoal que tá passando droga pros presos. E antes de ir pra casa passa na igreja pra levar uns passes e pagar os pecados com 10ão. Aí, quando chegar, liga a TV pra ver o show do Neymar, mas liga o gato-NET porque você não gosta da Globo nem do Galvão Bueno.

A verdadeira revolução brasileira não está nas ruas, muito menos nas redes sociais, está na cabecinha de cada 190 milhões de pessoas. Está em abrir mão do nosso jeitinho. Em abrir mão desse direito adquirido de ser malandro por ser brasileiro.

O Cazuza queria uma ideologia.

Eu não to pedindo tanto, só queria poder andar na rua com a minha família, sem sentir medo da minha sombra.